sexta-feira, 25 de junho de 2010

Me cativas?


"(...) - Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar" ?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar" ?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
(...)
Mas a raposa voltou a sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pãp. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguaguem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ficar feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
(...)
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela agora é única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer pro vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos (...) Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante (...) Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa..."

(Cap. XXI - O pequeno principe - Antoine de Saint-Exupéry)


Caro leitor,
Não creio que tenha sido qualquer um que encontrou disposição para ler todo o texto acima. Mas se leu é porque algo lhe chamou atenção nele. Me apaixonei pelo livro "O pequeno principe" ao ler sua dedicatória. E descobri que esse seria o meu livro favorito para sempre ao ler o capitulo XXI. Não sei se você prestou atenção na grandiosa lição dada nesse capitulo. Se tiver oportunidade, leia esse livro. Ele ensina muita coisa que sempre sabemos, mas nunca reparamos. E como não reparamos, esquecemos. E se não tiver oportunidade, crie a sua.
Cresci com o meu pai dizendo que sou responsável pelo o que cativo e quando li "O pequeno principe" pela primeira vez e me deparei com essa frase lembrei dele e descobri que ele tinha tirado tal frase do livro.
Damos tanta importancia aos erros dos nossos proximos que esquecemos do real objetivo da amizade. Se os tivessemos cativados não iriamos nos importar.
É como diz o sábio senhor meu pai: as pessoas andam nesse mundo tão desesperadas em busca de amor que quando elas não o recebem elas simplesmente desistem dele, ou pior, se acostumam com uma vida infeliz e acham que aquilo é normal. Mas se você realmente quer ser amado você só tem que amar. Ainda sobre as palavras do velho sábio que vem a ser meu progenitor ele procurou ser amado durante toda sua vida mas só encontrou desprezo. Mas quando ele passou a amar as pessoas sem pensar no que receberia em troca, quando passou (com todo o sentido da palavra) a fazer o bem sem olhar a quem, quando passou a dar carinho a quem precisava se tornou uma das pessoas mais amadas que eu conheço.
Tu não podes simplesmente procurar quem te cative. Tu tens de cativar as pessoas. Amar sem medo, amar sem ter espectativas do que lhe retribuiram. Até porque espectativas muitas vezes levam a decepções.
Ninguém é obrigado a ter os mesmos principios que você. Ninguém é obrigado a ter a mesma consideração que você. E se você ama ao seu próximo em busca de retorno, me desculpe a franqueza, mas se prepare para a decepção.
Não abra mão daquilo que você crêe. Não abandone seus principios. Não deixe suas verdades. Perdoe a falta de consideração e mais: Não se decepcione com ela!
Quando você assumir a responsabilidade daquilo que cativa por inteiro e para sempre, não tenha duvidas. Irão te cativar, irão te amar. E então você poderá entender que tudo aquilo que você precisava estava simplesmente escondido na necessidade alheia, porque quando ajudamos ao proximo, ajudamos a nós mesmos.
Todas as nossas ações, por mais insignificantes que pareçam, nos aumentam ou diminuem.
Cresça ajudando alguém a se levantar.
Cative e verás que terás o maior premio ao olhares para os campos de trigo e verem o seu dourado reluzir ao Sol ou qualquer outra coisa que te faça lembrar daqueles que você cativou, daqueles que você amou, daqueles que são dignos de boas lembranças.

"- Tú olharás, de noite, as estrelas. Onde eu moro é muito pequeno, para que eu posso te mostrar onde se encontra a minha. É melhor assim. Minha estrela será então qualquer das estrelas. Gostarás de olhar todas elas... Serão, todas, tuas amigas. E depois, eu vou fazer-te um presente...
(...)
- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém...
- Que queres dizer?
- Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem rir!
E ele riu mais uma vez.
- E quando te houveres consolado (a gente sempre se consola), tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto... E teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: "Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!" E eles te julgarão maluco. Será um peça que te prego... "


(Cap. XXVI - O pequeno principe - Antoine de Saint-Exupéry)