sexta-feira, 27 de maio de 2011

Remanescente (re-edição) I

E ela estava lá, toda linda, olhando pro nada (ou talvez pro tudo, não sei bem).
- Helena...

- Oi

Ela se virou rapidamente com um sorriso largo

- Esse sorriso todo depois da maior caminhada da minha vida?
- Apenas alguns quilometros. Vai dizer que deu pra cansar?
Eu não precisei responder.

- Você é feliz?
- E que pergunta é essa?
- Quero saber se você é feliz. Agora, nesse momento, você é feliz?
- A pergunta não seria 'você está feliz'?
- Não, quero saber se você é feliz comigo.

Ela sorriu mais uma vez, me beijou e sussurrou:
- Pensava que a resposta já era óbvia.

Típica resposta feminina que não diz nada, ou diz tudo. Na verdade eu acho que isso tudo era pra ser muito óbvio, mas a gente nunca entende pra valer o que isso significa, mas também tem que manter a pose e fingir que tudo fez o maior sentido do mundo. Aposto que essas respostas são feitas com a intenção de nos confundir.





O Sol brilhava entre seus fios dourados e seus olhos do mais doce e suave castanhos tinham frestas verdes perfeitamente desenhadas. Linda. Minha linda pra ser mais exato.

Foi a maior caminhada da minha vida, e por mais que eu não quisesse admitir estava exausto. Foram voltas e voltas, subidas e mais subidas pra depois... descer! Tudo por uma linda vista, mas acabou que curtimos mais a vista da praia do que a vista lá de cima.


Éramos um típico casal perfeito, começamos a namorar no colegial e nunca mais nos largamos.

Helena era minha melhor amiga, companheira pra tudo. Os piores programas imagináveis ficavam perfeitos quando estávamos juntos. Nos bastavam um ao outro, sob um céu estrelado, frente ao campo, olhando as ondas... O lugar não fazia tanta diferença assim.

Sabe quando você gosta tanto de alguém que dá saudade na hora de dormir? Sabe quando você está tomando café-da-manhã e sente saudade de alguém? Sabe o que é querer estar com uma pessoa todo o tempo, sempre e sempre? Sabe o que é nunca mais querer largar de um abraço, doer pra dizer adeus? É meu amigo, eu estava apaixonado. Pra ser mais verdadeiro, eu estava apaixonado há 6 anos, e agora estava tudo certo. Eu tinha um emprego, tinha um apartamento, um carro e um cachorro gordo. Não tinha o porquê adiar, tínhamos tudo.


Estava tudo certo. Encomendei as rosas, comprei o jantar, pedi pra minha cunhada arrumar meu apartamento do jeito mais romantico possível e ela realmente caprichou. Velas, rosas... estava perfeito. Aniversário de 6 anos de namoro não é pra qualquer um.

A campanhia soou.
- Boa noite minha Helena.

Disse lhe beijando a mão.
- Boa noite caro Richard.

Respondeu em uma leve reverência, entre risos.
- Bem, (disse enquanto entrelaçava meu braço ao dela e a encaminhava para dentro) está noite será bem especial.

Ela não respondeu, apenas observou toda a arrumação, abriu aquele sorriso lindo e me beijou.

Sentei-a à mesa, servi o jantar dizendo que eu tinha preparado tudo com minhas próprimas mãos. Ela fingiu (muito mal por sinal) que acreditou.

A noite estava perfeita.

Quando percebi que a comida em seu prato estava acabando coloquei uma música romantica para tocar e ela mais uma vez apenas sorriu pra mim (mulher risonha, seus risos me confundem). Eu a tirei pra dançar e depois de alguns poucos passos me ajoelhei e tirei a tão sonhada caixinha do bolso.

Antes que eu começasse a falar qualquer coisa seu sorriso estampado já havia começado a inundar os olhos. Declarei-me, palavra à palavra, sentimentos à sentimentos e a resposta à meu pedido foi sim (e alguns beijos).

Nossa noite continuou, perfeita como deveria ser.

Infelizmente ela trabalharia no dia seguinte, e tarde da noite se dirigiu à seu carro e eu tive que deixar minha futura rainha ir embora.

Fui dormir e tudo aquilo me pareceu um sonho, nada muito real, tudo muito perfeito.


Agora eu sei exatamente o que fazer, bom recomeçar poder contar com você, pois eu me lembro de tudo irmão estava lá também, o homem quando está em paz não quer guerra com ninguém eu


- Alô...

Disse eu não muito acordado, cinco horas da manhã não é hora de se ligar pra ninguém. Juro que só atendi porque o toque era exclusivo dos números relacionados à Helena.

- Rick

A voz era desesperada, mas não era de Helena.

- Sim, sou eu. Quem fala?
- É a mãe da Helena.
- O que aconteceu?
Ouvia soluços presos na voz da minha futura sogra e um desespero impossivel de se disfarçar.

- Helena... ela...

- O que aconteceu?
Repeti com a voz mais alta.
- Parece que ela bateu com o carro, não sei bem o que vai acontecer. Levaram ela pra sala de cirurgias, ninguém me diz nada. Não sei, eu não sei.

- Estou indo pra ai!

Pulei, não pensei. Perguntou pelo hospital, não pensei mais em nada. Enfiei-me em qualquer roupa, não tive paciencia pra esperar pelo elevador. Desci correndo as escadas.
Quando finalmente sentei, antes de ligar o carro, eu parei. Vieram tantas coisas a minha cabeça que eu não conseguia pensar em nada. Era uma angustia tão grande a que me bateu, coisa tão ruim...

Liguei o carro, com janela aberta e a corrida trazia o vento ao meu rosto. Demorei um tempo até perceber as lágrimas rebatidas ao vento.

Eu corri, eu chorei e então... eu cheguei.