segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Foi na tarde em que sonhei acordada


O vento gelado encontrava a pele mas o sol não deixava que o vento trouxesse o frio. O sol aquecia na medida certa. Temperatura perfeita com cabelos ao vento em nuances de cores que variavam entre caramelos, castanhos e dourados de acordo com a luz. Meus olhos cintilavam com a música, palpebras se dilatavam durante a concentração nas notas. Não era apenas ouvir, era sentir.
Foi então que minha visão se desfocou e comecei a sonhar. O real e o ficticio se misturavam em minha mente. Viagem foi a que tive sem sair do lugar. Minha respiração era ritmada, era profunda.
Uma sala com uma porta que ocupava uma parede inteira de vidro. A cortina se desprendia e vinha caindo delicadamente a frente da porta. O sol atravessava o vidro, iluminava a sala e seguindo tocava aos pés do pianista que se personificava em mim.
Belo era o alvo piano de cauda que ocupava a sala, nada a mais. Só ele.
Respirei fundo. Acaraciei a teclas, fechei os olhos. Ouvi crianças brincando, pessoas falando. Me concentrei nos sons. Conseguia separar e focar em cada um deles. Primeiro ouvi as crianças a brincar... como elas sorriam. Ouvi a conversa das mães e foi então que resolvi esquecer dos homens e ouvi a natureza. Ouvi o vento, ouvi o mar. Ouvi as ondas quebrando nas pedras e podia sentir o cheiro da praia. Me fixei no mar, senti-o sem toca-lo. Meus ouvidos eram o suficiente para sentir os outros 4 sentidos. Consiguia ver cores nas notas. Podia identificar qualquer nota em qualquer som. Era minha vida, minha respiração.
Meus dedos então deslizaram sobre as alvas teclas e toquei o som de minha alma.
Erudita era a musica. Incrivel. Sentia as notas, ritmavam as batidas do meu coração.
Meus dedos dançavam sobre o piano... Minha vida contada em música. Podia me compreender com a música, só assim mostrava meu verdadeiro eu sem medo de julgamentos, só assim conhecia quem eu era.
Sonhei no meu sonho e acordei num salão de época moderna, belos vestidos enfeitavam os salões reais. A nobreza dançava mas as mascaras cobriam suas faces.
Óh meros mortais. Não tem como definir ereges e santos se não podem ver suas faces. Nem podemos ouvi-los. Sejam quem forem só compartilham do mesmo extase chamado música. Posso sentir a respiração e batimentos de todos como em uma orquestra. A música os encontra, e a recepção de cada um não pode ser falsa. Somos verdadeiros, tudo é pra valer, é tudo real. Nossos ouvidos não podem usar máscaras. O unico sentido verdadeiro, aquele que não controlamos.
Belo era o lustre que paraiva sobre suas cabeças mas eu continua no meu piano branco independente de qual era minha vestimenta. Não me importava com isso. Meus sentidos só eram um, eram música.
Mas es que as notas finais se aproximam. Volto a minha sala, volto ao meu piano branco. Sinto o sol, toco as ultimas notas e ouço o mar, as outras vozes se misturam e todos os sons são apenas um. O mar bate nas pedras, as ondas. Ondas, que belas notas tens. Nunca se repetem, são lindas. Harmonia divina.
Ainda vejo os belos salões dançantes, a sala ao sol com som de ondas, mas já estou no mundo real, no meu mundo. Sinto o vento e o sol. Contraste magestoso.
Mas a musica ainda é presente. Ainda ouço as notas. Meu piano agora é o teclado tocado nesta mera praça estudantil. Mas ainda vivo meu sonho. Respiro no ritmo do mar, posso senti-lo.
Óh razão, não queiras tomar conta de mim. Esse sonho é muito melhor que a verdade, resume quem eu sou. É o fim, tenho que acordar.
Ouço passaros, o teclado pausou. Minha respiração de mistura ao som das folhas ao vento.
Tudo é música, não tem fim. Belo sonho, quem dera que fosse real.